Especialistas explicam motivos e consequências da alta taxa de sonegação registrada no país – no ano passado, isso significou 11% do PIB
Veja o recorte detalhado:
- Indústria: de R$ 105 bilhões a R$ 134 bilhões
- Varejo: de R$ 95 bilhões a R$ 125 bilhões
- Serviços financeiros: de R$ 85 bilhões a R$ 115 bilhões
- Prestação de serviços: de R$ 42 bilhões a R$ 56 bilhões
- Outros: de R$ 133 bilhões a R$ 170 bilhões
Segundo o presidente do Comitê de Transação Tributária da Associação Brasileira da Advocacia Tributária (Abat), Eduardo Mansur, a principal razão para esse alto índice é a complexidade do processo tributário. “É um sistema que compreende muita tributação que se sobrepõe na cadeia, passando pela produção, pelo comércio e varejo, chegando na ponta, no consumidor”, explica.
Além disso, Mansur diz que a alta tributação sobre a folha de salários é um fator que contribui para a sonegação de forma relevante, com 20% do total no valor de evasão. “Você tem uma tributação muito pesada sobre os encargos de trabalho e previdenciários”, pontua o especialista.
A maior parcela do valor sonegado, no entanto, corresponde ao varejo. “Há um contingente muito grande de brasileiros que não estão formalizados e que, para se sustentar, fazem comércio informal”, ressalta.
De acordo com a pesquisa, a maior informalidade está entre as pequenas empresas. Do total, 47% são microempreendedores individuais (MEI) ou microempresas que declararam receita acima do permitido em suas categorias tributárias. Outros 25% dos respondentes afirmaram que usam múltiplos cadastros de MEI.
O especialista frisa que a sonegação tem outras consequências para a economia brasileira, além da falta de recursos para o governo. “Se você tem um ambiente que assegura uma imunidade para o sonegador, você cria um ambiente de concorrência desleal no mercado, o que também é ruim para o investidor”, diz.
Soluções
O especialista em direito tributário Ângelo Peccini aponta que é necessário simplificar o sistema de tributação para diminuir o problema, uma vez que as regras são desencontradas e complexas. “No Brasil, há uma crença equivocada de que sonegar é uma forma de economizar ou ter um maior lucro. O que temos no Brasil é uma colcha de retalhos de procedimentos a serem adotados. Mas ainda temos nessa colcha uma legislação que traz uma assertividade de como bem proceder”, destaca.
Peccini avalia que é necessário realizar recuperação de créditos tributários e revisão fiscal. Assim, seria possível o alinhamento entre as empresas sobre a forma de prosseguir no pagamento dos impostos.
Já Mansur ressalta que também é importante criar mecanismos que privilegiem a lealdade na concorrência, como a diminuição do número de tributos. “O contribuinte não tem um staff, um corpo de profissionais para atender toda a complexidade de declarações. Então, prefere ficar à margem”, afirma.
Fonte: Metrópoles